Resumo Livro Obra Sacramento e Evangelização


1.0   Introdução
  O resumo da Obra Sacramento e Evangelização busca explicitar de maneira geral as visões de vários autores que participaram da quarta semana de teologia, na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Os temas expostos apresentam grande amplidão e proposição em voga da vida humana e da Igreja, trazendo os desafios atuais e as maneiras de enfrentá-los. No contexto eclesial toda a simbologia apresentada nos ritos. Também, no contexto celebrativo – sacramental, os sacramentos da Iniciação, Batismo e Eucaristia.
     Os temas tratados demonstram a Liturgia num contexto eclesial, manifestando a vivência desde as primeiras comunidades até hoje. A vivência do catecumenato e o querigma como estão sendo revistos e usados hoje numa nova forma de evangelização. Todavia, o cristão místico é fitado na obra como o cristão do futuro.
            A constituição dessa obra vem como um rico instrumento para o aprofundamento de um tema fundamental e atual como os sacramentos diante de tantos desafios teológicos e pastorais do nosso tempo. A obra contempla aspectos centrais como litúrgico, dogmático, pastoral e teológico.

2.0 Sacramentalidade da liturgia
Destaca-se nos temas introdutórios desta obra a importância do documento conciliar  Sacrossanctum Concillium para a vida da Igreja. Foi um documento muito bem estudado, mas sempre ressurgem, no momento atual, grandes desafios na questão litúrgica.
            Neste contexto, o autor organizador reflete sobre o tema Sacramentos e Evangelização diante dos desafios de hoje. Assim, com esse intuito, proclama-se autenticamente a Boa Nova diante dos desafios que a humanidade hoje enfrenta.

2.1 A liturgia
A liturgia se experimenta como um exercício de serviços prestados em uma determinada comunidade. Na Grécia antiga, chamavam de “liturgia” tudo o que se fazia de bom e se apresentava às pessoas.
            Na teologia há algo que se experimenta na arte da liturgia, na forma de servir o povo, esse modo teológico se expressa de diversas formas na vida das pessoas.Com isso, se lança um olhar no fator da celebração da liturgia.
A observação principal na liturgia é para alguém que é invisível, que não aparece, mas que se fez muito presente na história humana e na tradição judaica e  chama-se nada mais ,nada menos que: Javé, Deus e Senhor.
            Trazendo em cena essa afirmação do nome de Deus e do seu alento em relação ao povo, vê-se em certa etapa da história que Ele prestou um serviço muito maior à humanidade enviando seu filho único, Jesus Cristo, como Salvador da humanidade.
            Esse ponto se faz central na liturgia e na história da vida da Igreja e seu fundamento, pois, engloba o amor de Cristo, com a manifestação da Salvação do Pai no e pelo Espírito Santo.

2.2 Liturgia que se torna célebre
            A liturgia, toda ela é celebrada como obra maravilhosa de Deus, e é vivenciada por pessoas. Toda a liturgia é vista pelo ser humano como uma celebração da obra do Criador, como o cântico de Daniel relata o louvor das criaturas e também como Francisco de Assis apresenta seus cânticos. O próprio Cristo pede na última ceia que eternizasse a maior liturgia de Deus celebrando seu Mistério Pascal.
            Na obra salvífica de Cristo, onde pela paixão, morte , Ressurreição e o dom do Espírito que pelo batismo nos faz participar da vida de Deus foi inserido pela Revelação em Cristo na vida, uma interpelação do Divino no humano. Vale salientar que a liturgia celebrada pelos cristãos não se limita somente em ritos, mas sim, nas mais variadas formas de celebrá-la pelos Sacramentos em geral, pelo Ofício Divino, pela Palavra e pela prática da caridade.

2.3 Os sinais sensíveis
            A obra de Cristo continua na Igreja e essa obra da Salvação do Pai dada por seu Filho Jesus se coroa pela Liturgia, ela é tida como o múnus sacerdotal de Cristo, no qual mediante sinais sensíveis se realiza, e, esse significado manifesta o caminho da santificação do ser humano.
 Lembra-se da passagem do Evangelho onde a mulher com hemorragia toca em Jesus, aquele toque não é somente um toque físico, mas sim, a força do próprio Espírito de Deus agindo.
Na sacramentalidade da liturgia, não pensada somente como Sacramento ou os sete Sacramentos, nem como somente cerimônias a serem realizadas. No entanto, o Vaticano II fala: “A Igreja como Sacramento ou como mistério apresenta toda a liturgia, ou seja, a ação sacramental como uma ação de Deus que vem salvar seu povo.”
Sobre o mistério  refere-se à revelação da própria pessoa de Deus, ao seu plano para com a humanidade, a comunhão de vida que oferece a todos os seres humanos, incluindo todas as realidades criadas. Pode-se dizer que, na pessoa de Jesus, Deus tocou a humanidade para salvá-la, para realizar um encontro, uma comunhão. A humanidade de Cristo fez unidade com a nossa humanidade e a Igreja nasce como sacramento advindo de Cristo. Também a Igreja  é humana e divina, o ser humano se ordena ao divino; é a ação invisível do Espírito servindo-se de meios humanos e visíveis.
            Por fim, esses sinais sensíveis trazem em cena uma necessidade especial da maneira de se cuidar, do modo como celebrar, de cultivar as formas das ações litúrgicas e a exigência da verdade de todos os sinais usados nas celebrações. Os sinais foram escolhidos por Cristo e pela Igreja para significar as coisas divinas sensíveis.

3.0 Da celebração à teologia. Por uma abordagem mistagógica da teologia dos sacramentos.
Progredir da celebração da liturgia é perceber como ela é vista num sentido teológico. Esse problema já foi relatado pelos primeiros sacerdotes da Igreja e isso se dará trazendo em voga uma realidade mistagógica e serão tratados especialmente dois sacramentos: Batismo e Eucaristia.

3.1 A liturgia como lugar teológico
            A primeira teologia que é experimentada se mostra como o lugar da fé, ou seja, onde a revelação se faz acessível ao povo. A premissa da teologia é a fé vivida da Igreja. Já, por sua vez, uma teologia secundária quem faz são os teólogos e o magistério.
            A liturgia é um dos lugares teológicos que vem em primeiro plano, porque a experiência cristã começa a fazer parte da vida humana, quando se expressa em símbolos. A liturgia é vista não apenas como um lugar teológico insubstituível, mas uma maneira de ser da revelação cristã, uma teologia primária que dá orientação à toda teologia, principalmente no seu diálogo com Deus.

3.2 A mistagogia como caminho para uma teologia sacramental
            Em um primeiro momento devemos perceber como o termo mistagogia se dá. Um dos sentidos é a própria celebração dos sacramentos da Iniciação; também, a catequese que explicita a experiência dos sacramentos recebidos. Ou, o desenvolvimento de uma teologia dos sacramentos e da liturgia sem separá-la da experiência da fé.
            Através de estudos foram se ampliando as etapas para que a mistagogia se desenvolvesse, mas a principal é a identificação com a Sagrada Escritura que descreve o evento salvífico no qual o sacramento se refere. E, também, a aplicação na liturgia de tudo o que se aprofundou diante do evento da salvação realizado a partir da Palavra e dos sacramentos.

3.3 O caminho mistagógico como resposta aos desafios atuais
            A perspectiva mistagógica vem trazer novos horizontes e, não anacronismos ou falta de atualização.
            Dentre esses problemas que a humanidade enfrenta podemos destacar três: uma cultura secularizante; atraída pelo religioso como objeto de consumo e descrente das grandes sínteses, uma cultura do tudo é possibilidade e uma ideia de que a ciência explica quase todos os mistérios.
Vê-se nesse panorama pessoas estranhas à verdadeira alteridade, Transcendência, obediência à Palavra de Deus e outros conceitos basilares do cristianismo.
Por fim, a mistagogia ou o seu desenvolvimento vem ao encontro dessa nova cultura. Como disse Karl Rahner: “O cristão do futuro ou será um místico ou não será um cristão.”

3.4 A Eucaristia a partir da Lex Orandi
Na Eucaristia, se desenvolve uma teologia que é vista a partir da última ceia como descrita pelos evangelistas, com isso surgem  algumas anáforas e palavras anteriores e posteriores às palavras próprias de Cristo que resultaram   na construção das orações eucarísticas.
Essa celebração, que desde o início, por Cristo foi trazida e permanece mantida  até hoje por preces eucarísticas feitas sobre um olhar teológico emergente e previsível da Igreja e que pode ser entendida somente como Ação de Graças. Todavia, essa forma de oração era conhecida como o nome de Todá que significa “confissão”. Mais tarde foi vista como dois verbos hebraicos significando yadáh e com o decorrer do tempo surge uma tradução do latim significando:” ação de graças”.
            A prece Eucarística dirige súplicas a Deus fundamentada no que o próprio Deus disse a nossos ancestrais, ou seja, há um relembrar das promessas de Deus dirigidas a seu povo.
            O autor destaca o paralelismo que a ceia pascal judaica traz sobre a possibilidade do entendimento da palavra “memorial”. Não é somente uma lembrança psicológica, mas um transportar com os pés da fé ao evento fundador.
            Como por via de sermos transportados pelo rito eucarístico até o evento fundador, saímos da dispersão em que nos colocara o pecado e constituímos o corpo de Cristo agora no presente.
            Cristo está sempre presente em sua Igreja, sobretudo, nas ações litúrgicas. Essa presença se dá em todos os Sacramentos, em especial no Sacramento da Eucaristia, como também, no Ministro e também, presente na Palavra.
            Por esse corpo de Cristo manifestado a nós por um amor grandioso que transforma em corpo eclesial do Senhor Ressuscitado, temos, com isso, a Missão de irmos ao mundo ao corpo social e transformá-lo no “Corpo de Cristo”.

3.5 O batismo a partir da Lex Orandi
O batismo ele não deve ser visto como só para crianças, pois a mais genuína tradição da Igreja, partindo de Tertuliano já designava o batismo como para adultos. Percebe-se no Novo Testamento essa comprovação do batismo após um amadurecimento na fé.
            Deste modo, no Novo Testamento quem recebe o batismo é aquele que ouve a mensagem do Evangelho, (querigma), aceita-a na fé e está disposto a seguir no caminho de Cristo. O batismo é o sacramento da fé, ou seja, uma adesão total a Cristo e à Igreja.
            Aceitar o batismo é aceitar o plano salvífico de Cristo e uma mudança inerente de vida que começa a fundamentar-se no plano da Salvação. Estar disposto a renunciar ao pecado que nos leva à morte. Aceitar o querigma acolhendo a Salvação a partir da morte que nos leva à vida que é a morte de Cristo.
            O candidato assumindo posturas de renúncia e de uma sólida aceitação do plano de Deus e da Sua Palavra começa, com isso, uma preparação que se chama catecumenato. Após a aceitação, preparação e a disposição há um rito seguido para que o catecúmeno possa ser batizado.
            Em todo o rito que acontece ao catecúmeno ele é acompanhado pelo catequista, ou seja, aquela pessoa que o acompanhou durante toda a sua preparação. Pois, a partir da imersão na água junto com o catequista, ele já faz parte de uma comunidade que crê em Jesus Cristo. Depois dessa caminhada parti-se para uma confirmação eclesial realizada pelo bispo.
            O catecúmeno vive até receber o batismo, diversas maneiras de crescer na fé e na adesão a Cristo, depois disso, há a confirmação dada pela  Igreja que é feita pelo bispo. A fé cristã é essencialmente eclesial. Surge, após isso, que o candidato poderá participar da mesa da Eucaristia. Todo o querigma, o catecumenato, o batismo, a aceitação da Igreja caminhava até chegar à Eucaristia, onde aquela pessoa poderia se alimentar do Corpo de Cristo e assumir a sua Missão de batizado e de ser Igreja como um corpo, fazendo então parte deste corpo.

 4.0 A Igreja como sacramento: Símbolo, memória e evento
            O primeiro documento conciliar Sacrosanctum Concilium, promulgado em 4 de dezembro de 1963 trouxe pela primeira vez a evocação de Igreja como Sacramento. Esse documento desenvolve o tema da liturgia com um amplo olhar na revelação trinitária com ponto central no mistério pascal dando origem a Igreja-sacramento. Caracteriza-se a Igreja como nela acontece o ordenamento do humano ao divino e a ele se subordine, o visível ao invisível.
            Falar em Igreja-sacramento significa identificar sua essência bipolar, que é humana e divina e seu objetivo que é a salvação da humanidade.

4.1 O valor do símbolo
            Na teologia do sacramento hodierna há uma valorização do símbolo. Na modernidade foi deixado de lado essa experiência simbólica trazendo mais em cena o lógico e a razão. O símbolo se mostra como uma forma intermediária que o ser humano faz entre o racional e o biológico. O simbólico é aquela ponte entre o racional e a pura sensibilidade.
            Assim Deus, ao se comunicar com os homens não usa meios como teorias ou não somente, por meio de palavras, mas sim, por meio de acontecimentos e fatos comunicando, com isso, o mistério da Sua vida. Através de Cristo pode-se perceber a auto-comunicação de Deus aos homens. Por isso, a Igreja é a continuação de Cristo, não somente, pelo que fala, mas pelo que se mostra visivelmente.

4.2 O modelo simbólico dos sacramentos
São destacados três modelos:  objetivista,  subjetivista e o simbólico: No primeiro, o objetivista, os sacramentos são elementos que apresentam objetos e que através deles chega-se à Salvação. Deus se comunica com o homem e age sobre aquele sujeito.
No segundo modelo, o subjetivista aponta para o aspecto revelativo. Os sacramentos como sinais da salvação.
No terceiro, o simbólico há uma reunião do subjetivo com o objetivo, tanto na causa como no sinal. Deus se revela por meio de acontecimentos e palavras intimamente conexos entre si. As obras de Deus na história da Salvação se manifestam por ensinamentos e as realidades são representadas por palavras.

4.3 A Igreja- Sacramento como “evento do mysterion” hoje
            Uma das formas mais adequadas de entender o sacramento, mas na realidade de mistério, um mysterion no sentido bíblico. O sentido da palavra mysterion se caracteriza como evento, como fato histórico-salvífico.
             A fonte dessa ação é a forma divina que apresenta-nos as três divinas pessoas. E deste acontecimento brota a realidade de toda a história no Universo. O mistério que estava escondido na criação e que começava a se revelar na história de Israel se comunica totalmente na pessoa de Cristo.
            Em Jesus Cristo está toda a presença da própria salvação como evento humano, como dom definitivo, oferecido aos homens.
            Dentre as características que se destacam desse evento podemos notar: Ele é antes de tudo um fato, pois caracteriza a realidade em que vivemos. Porém, esse fato que mergulhou na história humana tem algo especial que comunica algo significativo, por isso chamamos de um acontecimento.
Assim Cristo e o cristianismo se comunicam como um encontro humano comum, em compensação, constituem algo muito grande na história.



4.4 Sacramentos e memoria Christi
            Os sacramentos são eventos porque comunicam a Salvação. Nos sacramentos, o Senhor ressuscitado vem ao encontro do homem e da sua realidade. E, o mais interessante é o sentido de memória que liga o passado ao presente; exatamente na memória de Cristo, no acontecimento pascal.
            A dimensão de memória é evidente na definição de Sacramento vista por Tomás de Aquino; ele fala do Sacramento como sinal – Signum . Este signo traz algumas dimensões: O signo  é rememorativo e indica o evento da vida, morte e ressurreição de Cristo. É um sinal demonstrativo do presente que mostra o que acontece hoje; um sinal prefigurativo do futuro, pré-anúncio da glória futura. O sinal assume uma dimensão que abraça toda a história.

5.0 Batismo, fonte da vocação de todo o povo de Deus
Entra-se agora em evidência o tema do Batismo, sacramento da Iniciação Cristã. Esse sacramento pelo qual todo aquele que participa do corpo de Cristo, que é a Igreja, recebe e é introduzido no mistério. Por sua vez, nesse momento se visualizará o Batismo como fonte da vocação do povo de Deus.
Destaca-se a importância que o sacramento do Batismo produz na vida e missão do batizado, ou seja, o batismo nos insere numa comunidade e nos interpela à Missão.

5.1 A água: símbolo de vida e morte
            O simbolismo do Batismo passa pela água, esse elemento da natureza sem o qual a humanidade não consegue viver e que carrega um grandioso significado. O sacramento do Batismo é muito evidenciado no Novo Testamento, a porta pela qual judeus e gentios tinham acesso à comunidade e lá seguem Jesus durante sua vida e até a morte pelo reino.
            A água em todo o contexto da vida humana se mostra de maneira extremamente importante. Pois, para que haja vida e espécies diversas de vida em um determinado lugar necessitamos da água. Ela nos enriquece e nos ajuda a fortalecer-nos no caminho, mas vale lembrar que os seres vivos são muito complexos e, não somente de água necessitam para a vida se desenvolver.
            A água é vista por muitos hagiógrafos como uma comparação ou a sede mostrada nos salmos do Antigo Testamento é metaforicamente mostrada como a sede ou a busca do homem a Deus.

5.2 O Batismo no Novo Testamento
O significado da palavra Batismo está intimamente ligado ao elemento sensível criador da humanidade chamado” água”. Destaca-se no Antigo Testamento várias manifestações do uso da água como elemento central. E entre, os dois testamentos, aparecem o batismo de João e a seguir o batismo de Cristo. Mas, ressaltam os estudiosos que o batismo de João é diferente do Batismo de Jesus. O Batismo de João foi somente um rito de penitência, o qual o prepararia para o de Jesus.
Destacamos agora três pontos importantes para percebermos a centralidade do Batismo na compreensão da igualdade fundamental de todas as vocações.
O primeiro: O Batismo é um rito inclusivo. O Batismo cristão não é só concedido aos judeus, mas a todos. Dentre esses todos estão mulheres, os gentios, os escravos e os de qualquer situação social. O Batismo trará indelevelmente com a força do sacramento que em Cristo Jesus todas as diferenças foram abolidas.
O segundo ponto dá ao ser humano uma nova identidade. Identidade essa com dinâmica Pascal. Significando a morte do velho homem ou do Adão antigo, morte do pecado e à separação de Deus e começar a existir no mundo não mais para si mesmo, mas como Jesus viveu e se comportou. Um existir que deve estar na dinâmica do fora de si, para Deus e para os outros. O batizado, portanto perde sua antiga identidade para ganhar uma nova.
O terceiro ponto destaca-se o Batismo fundado num modo específico de ser e construir a Igreja. Além de incorporar o ser humano a Cristo outro efeito do Batismo é incorporá-lo a uma comunidade eclesial. O Batismo é o sacramento que configura a Igreja. O Batismo torna comunidade os fiéis que assumiram uma identidade nova de cristãos.

5.3 A santidade como utopia da vocação cristã.
            A Fé cristã afirma ser um encontro com o Deus de Jesus Cristo, uma experiência do existir. A busca constante por Deus que vem ao encontro do ser humano.
            Dentre tantas palavras que existem ou nomeiam a forma de viver a vocação cristã destaca-se a palavra ágape ou amor desinteressado, oblativo. Essa é atitude mais própria do batizado buscando um exercício de vida santa.
            Se mostra na carta de João:...” quem não ama não descobriu Deus, porque Deus é amor “ (1 Jo 4,8) É nesse amor que o Batismo introduz todo aquele ou aquela que o recebe. O cristão por força do batismo, é, portanto, chamado a viver o amor ágape até o nível do heroísmo.

6.0 Epíclese eucarística: uma dimensão a ser redescoberta ainda
            A palavra epíclese ela quer dizer invocação. Epíclese eucarística é aquela, portanto, invocação do Espírito Santo que se faz no contexto da oração Eucarística.  Todavia, o uso do ainda no título quer destacar uma preocupação de que a epíclese eucarística pode estar sufocada, quando não completamente esquecida nas celebrações.
             A importância e o despertar sobre a invocação do Espírito Santo constitui uma dimensão intrínseca à Eucaristia que se deu na teologia católica no contexto do Vaticano II. A preocupação é que se não for bem entendida prejudicará a compreensão verdadeira da Eucaristia.

6.1 A recuperação da dimensão pneumatológica dos Sacramentos
            Com a recuperação, quer dar uma visão sobre como os Sacramentos são concebidos. De simples gestos eles são concebidos como uma extensão-simbólico sacramental do agir de Cristo, sacramento do Pai.
            Os sacramentos são expressões do singular desejo de comunhão que o Espírito Santo fomenta em nós, por meio da atualização da memória de Jesus, sacramento do Pai. Na verdade, quem torna presente é o Espírito Santo, dom que nos foi entregue pelo Pai e pelo Filho.
Essa nova compreensão vai se revelando até nos novos ritos litúrgicos que buscam explicitar essa dimensão pneumatológica dos sacramentos. Compreendidos como memória atualizante dos gestos e das palavras do Senhor glorioso, os sacramentos constituem expressão privilegiada da presença e interpelação do Espirito Santo no seio da Igreja.


7.0 Divorciados e eucaristia: Perspectivas de condescendência.
            No decorrer da história da Igreja, o matrimônio foi visto como definitivo entre homem e mulher, mas nesse contexto em que vivemos muitos ventos foram contrários, mas muitos famílias não se deixaram balançar. Muitos matrimônios foram sendo concebidos sobre fundamentos vazios e não se perpetuaram, ou seja, não puderam ir adiante com o ideal de projeto familiar visualizado pela Igreja.
Uma adequação nova no contexto social exigiu da família esforços de adaptação. Tem a medida da passagem que houve do sistema patriarcal rural para o sistema industrial e comercial da cidade. Existia uma tradição maior na família patriarcal de vínculos mais próximos e na industrial muitas famílias saem do modelo patriarcal e começam lotar as cidades. O êxodo rural rompe os valores cristãos que permeavam as famílias e nas cidades compõem um mosaico de um modelo bastante fraturado.
            Por isso, não devemos mirar a sociedade familiar de hoje como uma ilha isolada, mas cuidar que muitas famílias já foram construídas sobre a areia movediça de uma sociedade fraturada que assimila outros valores e, com isso, há o risco de um afundamento nesse processo de assumir valores não-cristãos em relação ao que nos foram repassados de geração em geração.

7.1 Os divorciados não casados e a Eucaristia
            O catecismo da Igreja traz uma definição bem clara sobre essa problemática de assumir novas uniões quem já foi casado com outro e/ou outra pessoa. Ou seja, é destacado no documento que o adultério acontece quando um homem que já foi casado se une a outra pessoa em situação regular ou também irregular. A consequência disso são: o não acesso à eucaristia e a algumas responsabilidades eclesiais.
            O que foi tratado nesse subtítulo está especificamente direcionado para as pessoas que separadas se uniram novamente a outra pessoa. Todavia, vale lembrar que o divórcio, muitas vezes, faz parte de um grande calvário na vida deles, na qual carregam sua cruz, não por culpa própria, mas por força de circunstância que nem sempre correspondem ao conceito que a Igreja tem de divórcio.
            Já há nas últimas décadas no prisma da pastoral, muitos presbíteros tem demonstrado uma profunda acolhida nesses casos. Por sua vez, no ponto de vista jurídico o Direito Canônico traz no cânon 915 para que não sejam admitidos à sagrada comunhão os que estavam ou persistem no pecado grave. Já por sua vez, o Pontifício Conselho traz justificativas para essa manifestação em relação ao pecado. Vale lembrar que o Catecismo da Igreja coloca o pecado de adultério no contexto dos demais pecados graves.
            De certa forma se encontra um problema, pelo fato, de que em todas as outras situações de pecados graves com o arrependimento e a absolvição a pessoa ficará livre e poderá comungar novamente. Já no caso dos divorciados será que são menos dignos que os outros?(questionamento da autora)

7.2 A solução no foro da consciência
            O Concílio Vaticano II reza que a consciência é “ o núcleo mais secreto e o sacrário do homem”, então, lá Deus fala e responde. Havendo diante desse caso, ou seja, uma vez que a pessoa tenha consciência clara e distinta de que o matrimônio anterior foi falido desde a origem, os cônjuges poderiam participar novamente dos sacramentos.

8.0 Eucaristia, evangelização e ecumenismo
            Como partimos de temas muito extensos entre si, portanto, será feito um apanhado geral sobre cada um deles, partindo do ecumenismo e nessa perspectiva, se clarifica, pois, várias mãos tocam o mistério. E, o cristão de hoje não pode abandonar suas responsabilidades diante da eucaristia, diante da evangelização e diante do ecumenismo.

8.1 Eucaristia e Evangelização
            Jesus nos disse:” Ide e fazei discípulos todas as nações, e batizando-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo”. Também Jesus antes de sua paixão deixou no acolhimento do cenáculo a Instituição da eucaristia. Portanto, essa duas determinações são para pregar o Evangelho e celebrar a eucaristia. Na verdade Cristo deixou primeiramente para celebrar a eucaristia depois enviou em Missão.
            Na Igreja a celebração do memorial de Cristo é o centro do culto cristão, pois o pão que partimos e o cálice que abençoamos são o Corpo e o Sangue de Cristo, e, é nesse caminhar da evangelização que se espalhou de Jerusalém para o mundo, que no cunho litúrgico, percebe-se que a obra da Evangelização está intimamente ligada à ação eucarística. A eucaristia é vista pelos católicos como “fonte e ápice de toda a vida cristã”.

8.2 Evangelização e ecumenismo
            É ecumenicamente admitido que a evangelização anuncie Cristo, que passou fazendo o bem, que morreu crucificado e ressuscitou. Em Cristo se manifesta e se comunica o amor de Deus.
            Com efeito, a evangelização convida homens e mulheres a se tornarem discípulos de Cristo e serem batizados. A comunidade dos discípulos vive uma vida nova em Cristo dentro de uma comunhão.
            Cristo orou pela nossa unidade. Na cruz, Ele, o Senhor trouxe todos a serem um só, fez-se um para os outros e a unidade da vida humana participou da vida de Cristo.
            Consideremos que a caridade do Evangelho se estende universalmente. Ela ultrapassa os limites da comunidade cristã para as dimensões cósmicas, assim como foi universal o mandato missionário de Cristo e sucedido pelos apóstolos. Todos são destinados ao amor, sem restrições.
            Percebe-se que o ecumenismo tem um papel muito importante nos planos da nova evangelização de nossos tempos, principalmente nos desafios que encontramos hoje. Muitas vezes assistimos ações maravilhosas sendo realizadas, mas de outro lado vemos o orgulho e o capitalismo preponderantemente desenfreado.
            Esse encontro com o mundo é, portanto, encontro amoroso e, por isso, responsável e solidário. Pertence à evangelização. E, por conseguinte, vemos que essa cresce em transparência e eficácia respondendo aos novos desafios que se aproximam.

9.0 A dimensão escatológica da eucaristia
            A dimensão escatológica da eucaristia enxerga o fato da vida nova trazida em Cristo, mas não só o fato da presença de Cristo presente na eucaristia, mas o modo de como essa presença se dá. O homem que venceu a morte está presente em sua vida plena e escatológica.


9.1 A intenção de Jesus ao fazer a última ceia
            A intenção de Cristo era dar-se a si mesmo de forma real e viva para cada um de nós. A última ceia como várias interpretações foram feitas ao longo da história, está intimamente ligada à Ressurreição.
            A intenção D’Ele era deixar um sinal que ultrapassasse a própria realidade desse mundo que nos cerca, para que essa realidade se transformasse Nele mesmo, o Jesus vivo e real, com seu Corpo e com Seu Sangue, ressuscitado, transformado em corpo glorioso e dado como alimento de vida eterna para todos.
            Pode-se entender na interpretação de que o Corpo de Cristo doado torna-se comida eterna, que comendo dela ninguém mais sentirá fome e o Seu Sangue, bebida escatológica que dá vida plena a todos que a aceitam.
            Segundo relatos do Novo Testamento, os elementos da natureza dados pelo pão e pelo vinho guardam íntima relação com a vida de Jesus em doação total para reconciliar toda a humanidade.

9.2 A eucaristia hoje
            Ela pode se tornar cada vez mais complexa de ser explicada e até mesmo vivida na compreensão de como foi instituída pelo próprio Jesus Cristo. A eucaristia não nasceu por imposição da comunidade, mas por vontade do próprio Jesus e do seu mandato.
            Veem-se, com isso, os significados em que ela se encontra: nos sete sacramentos; na Igreja como lugar de seu nascimento; nas comunidades de Fé, e outros.
            A eucaristia constitui o núcleo de nossa Fé, em que se reúnem toda a história da Salvação e em que Deus se faz maximamente presente. Dessa forma, se nutre e revigora a comunidade eclesial comendo do corpo e sangue de Cristo. A eucaristia é comunhão com o Senhor, é sacrifício perene, é sacramento de uma presença, é ação de graças pelo dom da Salvação do Pai por meio de Cristo e no Espírito Santo, e a festa da Igreja que expressa e cria a sua unidade.

10. Sacramentos e experiência cristã: Uma pedagogia rumo à maturidade em Jesus Cristo
            Os sacramentos diante da comunidade Igreja tem a função de fazê-la ou constituí-la segundo o que Jesus nos ensinou. Neste momento pretende-se ressaltar pontos que ajudarão na ressignificação de algumas realidades da liturgia sacramental e da experiência cristã.
           
10.1 Crise de comunidade
            Segundo a autora na primeira metade do século XX, constata-se uma crise sacramental. Pois, essa “nova crise” dos sacramentos tem a ver com uma crise existente na Igreja. Vivemos em uma sociedade que deixou de ser homogênea e até religiosa e se tornou sem perspectiva. Pois bem, a crise é ampla e abrange a questão da coerência comunitária, da identidade e da missão da igreja. O que se percebe é uma falta entre o sacramento e a realidade da comunidade cristã.
            O necessário empenho na evangelização não deve criar uma oposição entre sacramentalização e evangelização, mas sim, uma complementação. Relembrando os primórdios do cristianismo onde liturgia e eucaristia estavam intimamente ligadas ao catecumenato batismal o qual era vivido com alegria e entusiasmo.

10.2 A função pedagógica dos sacramentos
            Sempre foram considerados pela comunidade eclesial os sacramentos como meio pedagógico para que a comunidade/Igreja tomasse consciência de si mesma, de sua missão e identidade. Existe sempre uma pedagogia nos sacramentos. A íntima relação entre sacramento, experiência e função pedagógica também é garantida pela dimensão/simbólico antropológica deles, pela função significadora que exercem.
            Os sacramentos realizam o que significam e provocam uma experiência profunda, que vem do interior mesmo dos que participam. E esses sacramentos criam condições renovadoras da consciência, com isso, atitudes e opções diferentes dos que participam deles.

11 Perspectivas urbanas da pastoral sacramental
            O ponto de partida sempre deve ser o olhar sobre a realidade que nos cerca, ou seja, encontra-se de um lado uma insatisfação dos que oferecem os sacramentos e, de outro, dos que buscam. No primeiro caso estão os padres e agentes de pastorais, questionando o despreparo no momento de receber um sacramento. De outro lado estão os que buscam os sacramentos, pois reivindicam as burocracias, má acolhida e irrelevância de conteúdos.
Percebe-se, também que quanto mais alto for o índice de urbanização maior serão a presença de outros elementos a tornar o quadro ainda mais complexo.

11.1 Evangelho, cultura e urbanização
            Por tudo se deve considerar o que acontece com uma cultura em relação com o evangelho quando é afetada pela urbanização. Os estudiosos afirmam que quanto mais urbano seja um lugar mais difícil será a identificação entre inserção sociocultural e Iniciação Cristã. Acontece isso com a realidade dos sacramentos, pois, há um descompasso entre o que é ofertado e o que é desejado, conclui-se não uma crise no sacramento, mas na realidade sacramental da Igreja.
            A proposta do Evangelho também enfrenta a crise de confrontação com outras propostas religiosas que também falam de Jesus. A Igreja se vê num processo competitivo com esses novos ambientes pré-urbanos.
            Se por um lado a Igreja não se resume ao aspecto institucional não deve ficar presa a formas que tentam balançar o conteúdo de uma sustentabilidade eclesial que vem de séculos. E, por conseguinte, usa desses meios para anunciar a Boa Nova.
            Por fim, o uso da linguagem simbólica nos meios urbanos é de extrema valia, não nas ações sacramentais, mas na vida pastoral em um todo. Ou seja, o símbolo comunica, expressa e vai além do que se pede. O símbolo é aberto e pode buscar, inovar, clarear e modificar novas posturas perante as novas e desafiadoras realidades.

12.1 Apreciação pessoal      
Percebe-se nessa obra uma grande riqueza em todos os níveis do conhecimento dos sacramentos, da Igreja e de todo o mistério da Fé.
Os autores trouxeram em cena uma forte convicção do que é celebrar. O ser humano necessita deste encontro com Deus e com o outro e nas mais diversas formas de celebrações, ou seja, dos ritos que acompanham os sacramentos, para que este encontro aconteça.
A Liturgia percebida como uma ação em benefício do bem comum. O CIC fala que a Liturgia é uma obra da Santíssima Trindade executada por Cristo, através do Seu Corpo Místico que é a Igreja, em favor de toda a humanidade. (CIC/Catecismo da Igreja Católica)
O termo Liturgia Laós +ergón, povo +ação. Em última instância é a ação de Deus em relação ao povo. A Liturgia é o Múnus Sacerdotal de Jesus Cristo. Um dos sinais é a comunidade reunida.
No documento da Igreja Sacrosanctum Concilium: “Cristo mostra-se como cabeça e nós somos os membros”. Pois, todos celebram. Nós somos um corpo conduzido pelo Espírito. A Igreja, toda ela é ministerial. Portanto, nós servimos a Deus e Deus nos serve em cada pessoa.
O bom foi visualizar o batismo como vocação do povo de Deus; a eucaristia como sendo uma realidade a ser desvelada pelos cristãos; a missão e a evangelização; o ecumenismo e as novas realidades a serem transformadas e enfrentadas pelos fiéis, por fim, aceitar a pedagogia de Cristo para seguir no caminho do discipulado.
Outro ponto muito importante da teologia sacramental foi observar que  “santidade é viver como filhos de Deus”, ou seja, o homem através da Revelação de Cristo mergulha no Mistério Divino. A Liturgia é um serviço à vida. Deus fez a maior liturgia dando seu filho único como celebração. Cristo doou sua vida e a doa continuamente a nós.
Mostra também no contexto a força que os sinais e símbolos produzem no momento de celebrar, pois em cada detalhe Deus se manifesta e se faz presença viva e eficaz do Seu próprio sacramento, Cristo Jesus. Cristo como Sacramento do Pai e a Igreja como sacramento de Cristo.
No decorrer da leitura a realidade existencial humana, a vocação humana da vida inteira a serviço ao Senhor e que se manifesta nas diversas culturas, também nas diversas formas que celebramos os Sacramentos,leva o povo de Deus a uma oblatividade de doação que Cristo nos deu ao subir à Cruz pelo seu povo. Em tudo o que se celebra manifesta o amor, ágape de Deus e pelo Batismo nos tornamos verdadeiramente filhos dando-nos uma capacidade maior de visualizar as realidades no cotidiano que se apresentam para a comunidade-Igreja diante dos desafios atuais.

 Obra: COSTA, Paulo César, Sacramento e Evangelização. Ed Loyola

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