INICIAÇÃO CRISTÃ E CATECUMENATO
Pe. Domingos Ormonde
O tema do catecumenato interessa a todos
os que se dedicam à evangelização e especialmente aos catequistas. A Igreja de
hoje está redescobindo o catecumenato, uma prática pastoral dos começos do
cristianismo. No Ritual da Iniciação Cristã de Adultos, no famoso RICA, estão
não só os ritos da iniciação cristã como também as orientações básicas para organizar
um catecumenato. Importa conhecer o catecumenato mais de perto. Ele é
considerado o “modelo inspirador” ou “fonte da catequese pós-batismal”.[2]
Caminhada
A palavra “caminhada”, muito usada por nós hoje, ajuda
a entender o catecumenato. Usamos essa palavra quando nos referimos a alguém (adulto
ou jovem) que está chegando na Igreja e deseja mesmo seguir o caminho de Jesus
em comunidade. Percebemos que é fundamental que essas pessoas façam uma
caminhada inicial como nós próprios fizemos. Catecumenato é exatamente uma caminhada
inicial na fé, que acompanha a iniciação cristã e é organizada pela comunidade
cristã.
O
catecumenato é oferecido, em primeiro lugar, aos que se sentem chamados a ser cristãos,
a ter sua vida unida a Jesus e à Igreja, a comunidade de seus seguidores.
Usando nossa linguagem mais comum: essa caminhada é feita sobretudo pelos que
não são batizados. A entrada no catecumenato é o começo da iniciação cristã dos
candidatos ao batismo, através de ritos que veremos abaixo. Nele a pessoa
começa a ser discípulo do Senhor e membro da Igreja, aprendendo “a ter os
mesmos sentimentos de Jesus Cristo” e procurando viver “segundo os preceitos do
evangelho”.[3]
O ponto culminante dessa caminhada é a celebração dos sacramentos de iniciação
(batismo, crisma e eucaristia), preferencialmente na vigília pascal e em uma
única celebração. Veremos na próxima ficha que o catecumenato pode ser
oferecido também aos já batizados.
O começo de tudo
Podemos ter uma idéia de como
acontece essa caminhada na fé, de acordo com o ritual da iniciação. A proposta
é que ninguém entre direto para o catecumenato. Quando surge um simpatizante na
comunidade, este deve ser acolhido pelo catequista responsável e apresentado a
um introdutor que, pessoal e informalmente, vai ajudá-lo no caminho da fé. É
feito, então, o anúncio (ou o novo anúncio) do mistério de Cristo, de tal modo
que Cristo passe a ser o centro da vida dessa pessoa e de sua compreensão da
existência.
Não há duração determinada para
esse tempo de evangelização. Quando o iniciante demonstra um início de fé em
Jesus Cristo, mudança de vida, oração pessoal, ligação com membros da Igreja e
desejo de ser batizado, ele é considerado participante do mistério de Cristo
pela fé. Chegou a hora de ser reconhecido pela Igreja como iniciante na vida
cristã, ou seja, catecúmeno. Celebra-se a entrada dessa pessoa no catecumenato,
a primeira etapa da iniciação cristã.
Na celebração de entrada no
catecumenato os candidatos ao batismo fazem sua primeira adesão pública a
Cristo e, pela cruz marcada sobre todo o corpo, tornam-se catecúmenos. Pelo
rito de entrada na Igreja, são recebidos como membros da família de Cristo. Celebram
a palavra de Deus junto com a comunidade, como se fosse a primeira vez, e cada
um recebe uma bíblia como sinal do tempo novo inaugurado, tempo de escuta do
Senhor. O catecumenato pode ser compreendido como uma introdução na escuta da
palavra de Deus.
A breve descrição da entrada no
catecumenato e seus antecedentes dá uma idéia da riqueza do catecumenato. Para
exemplificar melhor, podemos lembrar os quatro “meios” básicos indicados pelo
RICA para realizar o “tempo de catecumenato”. Interessa perceber como no
catecumenato a formação acontece inseparavelmente unida com a prática da vida
cristã .[4]
Catequese unida à
liturgia e à vida
Como primeiro meio do catecumenato é
apontado pelo RICA a catequese, que não deve ser confundida como mera
transmissão de dogmas e preceitos. É preciso que a catequese ajude na vivência do
mistério de Cristo, do qual os catecúmenos desejam participar plenamente pela
iniciação. Para isso, a catequese deve ser distribuída por etapas, integralmente
transmitida, relacionada com o ano litúrgico e apoiada em celebrações da
palavra[5]. As
celebrações da palavra, inseridas nos tempos litúrgicos e com um elenco próprio
de leituras bíblicas, ajudam a assimilar os conteúdos da catequese (por exemplo
o perdão, a solidariedade...), ensinam
prazerosamente “as formas e os caminhos da oração”, aproximam dos
“símbolos, ações e tempos do mistério litúrgico” e introduzem “gradativamente
no culto de toda a comunidade”[6].
Conversão de vida
e acompanhamento pessoal
Um segundo meio do catecumenato é a
própria prática da vida cristã. Durante o tempo do catecumenato, como diz o
ritual, os catecúmenos “acostumam-se a orar mais facilmente, a dar testemunho
da fé, guardar em tudo a esperança de Cristo, seguir na vida as inspirações de
Deus e praticar a caridade com o próximo até a renúncia de si mesmos”. A
formação é compreendida como um “itinerário espiritual” de passagem “do velho
homem para o novo que tem sua perfeição em Cristo”, “uma progressiva mudança de
mentalidade e costumes, com suas conseqüências sociais”.
E
como isso é incentivado para não virar apenas uma intenção? Pelo exemplo e
acompanhamento pessoal de alguns membros da comunidade, sobretudo os “introdutores”,
indica o ritual. O ministério do introdutor continua durante o catecumenato.
Vida litúrgica não
só pedagógica
O terceiro meio de formação na fé,
privilegiado pelo catecumenato, é a própria participação litúrgica. Nem o
interessado que está chegando, nem o que já é catecúmeno, são levados
imediatamente a participar da liturgia da comunidade, especialmente a missa. Tal
participação deve ser gradativa, como apontado acima. A catequese sobre a
liturgia e as celebrações que a compõem são pedagógicas com relação aos
sacramentos de iniciação e à futura vida litúrgica. Mas não só.
Os ritos que acompanham o
catecumenato (orações de libertação do mal, bênçãos, unções, entregas,
celebrações de arrependimento) são uma ajuda da mãe Igreja na caminhada. Através
deles Deus age gradativamente purificando e protegendo os catecúmenos. Neste
sentido, os catequistas do catecumenato não são apenas instrutores, mas também
ministros da oração (em favor do grupo e de cada um individualmente) e
ministros da celebração da palavra de Deus.
Testemunho de
vida
O catecumenato inclui em sua
formação, segundo o RICA, um quarto meio: o aprender “a cooperar ativamente
para a evangelização e edificação da Igreja”. O catecumenato inclui o
aprendizado para a missão, mas não é ainda participação em uma pastoral
determinada. O ritual propõe aquilo que é fundamental e elementar na missão
cristã: “o testemunho da vida e a profissão de fé”; algo que é realizado no
meio em que se vive e trabalha e não exige preparação especial, apenas a
convicção da fé inicial.
Assim, com os três meios
indicados, realiza-se o tempo de catecumenato. Este é sucedido pela preparação
imediata, uns quarenta dias antes dos sacramentos: o tempo da purificação
iluminação. A iniciação cristã atinge assim o seu ponto culminante em uma única
celebração dos sacramentos de iniciação (batismo, crisma e eucaristia), cujo
prolongamento é o tempo da mistagogia.
A quem interessa
o catecumenato
Os catequistas de iniciação,
sobretudo, não podem deixar de conhecer o catecumenato e o RICA. Este será um dos
seus manuais para a realização do catecumenato batismal, e com as devidas
adaptações, o pós-batismal. Aqui estão incluídos os catequistas que se dedicam
ao prosseguimento da iniciação cristã inaugurada no batismo (preparação para a
primeira comunhão e para a crisma) e todos os que se dedicam à catequese nas
suas diferentes formas, e de modo particular à catequese de jovens e adultos.
O RICA tem muito a ensinar com
a sua proposta de catecumenato. Toda iniciativa catequética deve ter os
sacramentos de iniciação como referência fundamental, deve incentivar a
indispensável maternidade espiritual da comunidade cristã, deve ter suas raízes
na vigília pascal e em sua espiritualidade batismal, e possibilitar vinculação da
catequese com ritos, símbolos e sinais, especialmente bíblicos, além de constante
referência à comunidade cristã[7].
Perguntas para reflexão pessoal ou em grupos:
1.
Sua comunidade
tem catequese com adultos e jovens?Essa catequese é feita no estilo
catecumenal? O
que “sim” e o que “não”?
2.
O que você vê
como novidade no catecumenato? Poderia ser aplicado na catequese, de modo
geral?
Nenhum comentário:
Postar um comentário